Pesquisadores da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) desenvolveram um novo sistema de refrigeração à base de energia solar, que poderá beneficiar produtores rurais de leite no Nordeste brasileiro. O sistema resfria o leite por meio de um processo de absorção sólida. O projeto foi desenvolvido por Ana Rosa Mendes Primo, professora do Grupo de Engenharia Térmica do Departamento de Engenharia Mecânica da UFPE, e por Rogério Klüppel, professor aposentado da Universidade Federal da Paraíba (UFPB).
De acordo com Ana Rosa, o sistema, que atinge temperatura mínima de 7ºC, começou a ser desenvolvido em 2002, quando o Ministério da Agricultura estabeleceu novas normas técnicas para a coleta e o transporte de leite em propriedades rurais. ?A lei determina que todo tipo de leite deve ser refrigerado ainda no local de produção, o que causa dificuldades para os produtores, uma vez que a maioria tem acesso precário e caro à energia elétrica?, disse Ana Rosa.
Pernambuco produz cerca de 186 milhões de litros de leite bovino por ano. A bacia leiteira se concentra no agreste (71%). O sertão produz 16%, e a zona da mata, 10%. A atividade emprega cerca de 80 mil pessoas no estado.
Segundo a pesquisadora da UFPE, a tecnologia de refrigeração solar poderá contribuir para diminuir o êxodo rural em todo o Nordeste, aproveitando as condições climáticas favoráveis de céu limpo e pouca precipitação ao longo do ano.
O refrigerador é composto por um coletor solar plano, cujo interior é cheio de sílica gel ? material usado para absorver umidade. O sistema tem uma válvula de passagem de água com acionamento manual. ?A sílica gel libera vapor d?água a partir da ação do sol. Quando o sol incide sobre o reator, o calor penetra no coletor, e a sílica começa a expulsar o vapor d?água, que é direcionado para o condensador, liquefeito e acumulado em um recipiente?, disse.
Segundo Ana Rosa, no meio da tarde, quando o calor começa a diminuir, é preciso abrir a válvula para que a água desça para o evaporador, produzindo a refrigeração dos baldes de leite. ?O vapor retorna pelo mesmo caminho pelo qual passou a água. Quando o sol volta a nascer, é hora de fechar a válvula e recomeçar o ciclo?, explicou.
Os pesquisadores trabalham agora para incorporar ao sistema um controle automático para a válvula, dispensando a abertura manual para a liberação da água no fim do dia. ?A idéia é incorporar uma válvula solenóide operada por energia solar, criando um sistema independente para ela?, disse a pesquisadora.
Atualmente, uma produção de cem refrigeradores solares faria com que cada unidade custasse em torno de R$ 5, na avaliação dos pesquisadores. ?É um custo mais que razoável, levando em conta que o tempo de vida útil de cada equipamento é de 30 anos?, disse. Segundo Ana Rosa, a empresa paraibana Solartech, que pertence a Klüppel, pretende fabricar o equipamento.
Fonte: Agência FAPESP (www.agencia.fapesp.br ), com base em matéria de Fábio de Castro.