Em 26 de janeiro foi celebrado o Dia Mundial de Combate à Hanseníase. A data foi instituída pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para promover uma maior conscientização sobre a doença. Atualmente, a hanseníase tem cura e, desde a década de 50, seu tratamento é feito em nível ambulatorial. No Brasil, o tratamento é gratuito e está disponível no Sistema Único de Saúde (SUS).
A hanseníase, uma das doenças mais antigas da história da medicina, é causada pelo bacilo de Hansen, um parasita que ataca a pele e os nervos periféricos, mas pode afetar outros órgãos como o fígado, os testículos e os olhos. O período de incubação varia entre três e cinco anos e sua primeira manifestação consiste no aparecimento de manchas dormentes de cor avermelhada ou esbranquiçada em qualquer lugar do corpo. Placas, caroços, inchaço, fraqueza muscular e dor nas articulações podem ser outros sintomas.
A doença é capaz de contaminar outras pessoas pelas vias respiratórias, caso o portador não esteja sendo tratado. Segundo a OMS, a maioria das pessoas é resistente ao bacilo e não a desenvolve. Aproximadamente 95% dos parasitas dos parasitas são eliminados na primeira dose do tratamento, já sendo incapaz de transmiti-los a outras pessoas. O tratamento dura cerca de um ano e o paciente pode ser completamente curado se seguir corretamente os cuidados necessários. Buscar o auxílio médico é a melhor forma de evitar a evolução da doença e a contaminação de outras pessoas.
Disponíveis no SUS, o tratamento e os remédios são gratuitos e, ao contrário do que muitos pensam, não é necessário o isolamento do paciente. A presença de amigos e familiares é fundamental para sua cura e, durante esse tempo, o hanseníano pode desenvolver normalmente suas atividades.
O estigma da doença
Chamada pejorativamente de lepra, a hanseníase ainda traz consigo o estigma que a acompanha desde os tempos bíblicos, deixando marcas profundas no indivíduo portador devido às inúmeras perdas decorrentes da doença. O indivíduo necessita resgatar sua auto-estima, seus vínculos e relacionar-se para reintegrar-se ao mundo real. Os sentimentos relacionados a esta doença, como o medo, a vergonha, a culpa, a exclusão social, a rejeição e a raiva fazem parte do seu cotidiano.
A falta de informações sobre o modo de transmissão, controle e cura da doença contribuem para o estigma que a hanseníase carrega. O portador da moléstia prefere manter-se calado a respeito do diagnóstico e ocultar seu corpo, na tentativa de esconder a doença, para evitar a rejeição e o abandono.
A hanseníase no Brasil
Mais comum em populações de baixa renda, desprovidas de condições adequadas de moradia, trabalho e transporte, aspectos que contribuem para a disseminação do bacilo, a hanseníase é um grave problema de saúde pública no Brasil, conforme dados do Ministério da Saúde.
O país ocupa o primeiro lugar no ranking mundial de prevalência da hanseníase, apesar da taxa ter caído 65% nos últimos 10 anos. Embora esteja ocorrendo uma redução significativa nos últimos anos, o número de casos ainda é alarmante. Em 2012, foram identificados cerca de 33 mil novos caso em todo o território nacional. Em números absolutos, o Brasil fica atrás apenas da Índia, que, com uma população cinco vezes maior, tem 127 mil novos casos por ano.
Segundo o coordenador nacional do Movimento de Reintegração das Pessoas Atingidas pela Hanseníase (Morhan), Artur Custódio, o preconceito e a falta de informação são os principais motivos para que a doença não tenha sido erradicada do país. “O medo da discriminação afasta pacientes das unidades de saúde e dificulta o diagnóstico e o tratamento da doença”, explica.
O embaixador especial da OMS para Eliminação da Hanseníase, Yokei Sasakawa, lamenta o fato de o Brasil ainda não ter atingido o patamar estabelecido pelo organismo para a erradicação da doença, que é o de menos de um caso a cada 10 mil habitantes: “O Brasil é um país capacitado para sediar a Copa do Mundo e as Olimpíadas, mas é o único que não conseguiu eliminar a doença.”
A meta do Ministério da Saúde é eliminar a hanseníase até 2015, por meio de ações programáticas, como diagnóstico, tratamento, vigilância dos contatos, prevenção de incapacidades e reabilitação física, além da educação em saúde. O Ministério lançou, em janeiro de 2014, uma campanha educativa dirigida à população e aos profissionais da saúde, com orientações para identificar os sinais e sintomas da doença, visando o diagnóstico precoce.
Segregação e indenização
De 1924 a 1962, o Brasil utilizou a internação compulsória de pacientes de hanseníase como controle da doença na comunidade. Isso serviu para agregar e, ao mesmo tempo, segregar esses indivíduos, aumentando o estigma social da doença. Os hansenianos perdiam suas famílias, seus empregos e, muitas vezes, também suas casas. O fim do isolamento compulsório se deu com a descoberta do tratamento e cura da hanseníase. Para reparar as pessoas segregadas por causa da doença, a Lei Federal 11.520/2007 determinou que fosse concedida a elas uma pensão vitalícia, garantia de fornecimento de próteses e assistência à saúde por meio do SUS.
No final da década de 40, uma lei federal determinou o afastamento compulsório de recém-nascidos filhos de vítimas da doença, o que provocou a separação de milhares de famílias. Muitos dos filhos desses pacientes, nascidos nos chamados leprosários, foram abandonados à própria sorte ou levados para unidades conhecidas como preventórios. A Comissão Nacional dos Filhos Separados pelo Isolamento Compulsório calcula que o número de brasileiros nesta situação pode chegar a 40 mil. Em agosto de 2013, o Governo anunciou que pretende indenizar os filhos separados dos pais em decorrência da doença.
O embaixador especial da OMS, Yokei Sasakawa, destaca o empenho do Brasil para garantir o pagamento de indenização a pacientes que foram segregados em razão da doença. “Nesse caso, o Brasil é o país mais adiantado e deve servir de modelo para o mundo”.
Fonte: Agência Brasil, Associação Brasileira de Enfermagem, Instituto Lauro de Souza Lima, Morhan