O Rio Negro, maior afluente da margem esquerda do rio Amazonas, está vivendo mais um período de enchente, que já afeta Manaus, capital do Amazonas, e cidades do entorno. As cheias podem aumentar os acidentes com animais peçonhentos e casos de diarreia, principalmente em crianças. Além disso, depois das grandes cheias, costumam ocorrer surtos de malária.
Diante dos riscos à saúde da população, o Observatório de Clima e Saúde – um projeto da Fiocruz, do Ministério da Saúde, em conjunto com a Organização Panamericana de Saúde (OPS) e Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) – disponibilizou uma ferramenta de acesso a dados que permitem monitorar a enchente e seus efeitos sobre a saúde da população, que está disponível em (www.climasaude.icict.fiocruz.br/manaus).
O rio subiu cinco centímetros desde o decreto de estado de emergência em Manaus, no dia 27 de maio, quando a cota chegou a 29,16 metros. Segundo a Associação Amazonense de Municípios (AAM), em todo o Amazonas, 36 municípios já decretaram estado de emergência.
De acordo com as previsões do Serviço Geológico do Brasil (CPRM), da Defesa Civil e do Sistema de Proteção da Amazônia (Sipam), o nível do rio deve atingir seu máximo nas próximas semanas, e deve ficar pouco abaixo do verificado em 2012, um recorde histórico da região. A previsão é de que o nível da água varie entre 29,28m a 29,71m com média de 29,49m. O CPRM e o Sipam estão emitindo alertas sobre os prováveis efeitos deste evento climático extremo, que vem se repetindo ao longo da última década.
Rio regula dinâmica social da cidade
Manaus se tornou fortemente dependente do seu entorno mais próximo, que fornece alimentos, água e energia. O fluxo de mercadorias e circulação de pessoas tem alto custo, é lento e depende grandemente da rede de rios da região. Qualquer evento climático que suspenda o abastecimento ou interrompa as cadeias de suprimento da cidade pode produzir uma crise de grandes proporções no setor de saúde.
O nível da água do rio Negro é um forte regulador da dinâmica econômica e social da cidade, com o qual a cidade se habituou a conviver. A persistência de palafitas na cidade, como alternativa de habitação tradicional de baixo-custo, demonstra essa capacidade de adaptação da população local às variabilidades climáticas. Nesse e em diversos outros casos, as alterações de nível do rio são assimiladas pelos habitantes, se essas ocorrem dentro de uma faixa que não comprometa o funcionamento dos sistemas de transporte, de suprimento de água e alimentos, e do esgotamento sanitário.
No entanto, variações maiores, tanto em situações de seca, quanto de enchentes extremas, podem provocar o colapso desses sistemas. Por exemplo, um período prolongado de seca pode impedir o transporte em pequenos rios da região, dificultando o suprimento de alimentos para cidade. Já a elevação do nível do rio acima da cota de lançamento dos esgotos, provoca a paralisação do fluxo de esgotos tanto no sistema geral de coleta de esgotos, quanto nos pequenos sistemas de esgotamento comunitários ou individuais. O retorno da carga de esgotos, nesse caso, pode provocar a contaminação da água usada para abastecimento na cidade. Ambos extremos de variação foram sentidos pela cidade em 2009, ocasião em que foram registrados períodos prolongados de seca e cheia.
Estes processos favorecerem o surgimento de surtos de doenças relacionadas à água, principalmente as doenças transmitidas por vetores, como malária e dengue, bem como as doenças de veiculação hídrica, como leptospirose, hepatites virais e doenças diarreicas.