No início da década de 70, a mistura entre a tradição africana do canto falado, a animação dos bailes de guetos jamaicanos e as dificuldades sociais e raciais enfrentadas pelas comunidades afro-americanas nas regiões do Bronx, Queens e Brooklyn, em Nova Iorque (EUA), fez surgir a cultura hip-hop. Como forma de expressar política e artisticamente a realidade de bairros pobres, o hip-hop logo se transformou em um movimento e em uma espécie de mecanismo de defesa da periferia.
Do Bronx para o Jardim Vitória. Há quatro meses, todas as terças e quintas-feiras, um grupo de jovens deste bairro de Cuiabá se encontra para ensaiar os passos de dança e soltar o verbo em rimas e textos que expressam suas realidades. A oficina de break, uma parceria entre a Central Única das Favelas – Cufa e o Espaço Vitória, começou com seis jovens, mas hoje é aberta a toda comunidade e conta com 25 pessoas de 14 a 35 anos. “A intenção é elevar a auto-estima da juventude, além de divulgar a cultura hip-hop nas periferias”, explica Atamir Souza Moraes, MC Botinha, morador do bairro.
Além de ensaiar passos como “open-rock” e “sistep”, manobras características do “breakdance”, o grupo – formado por homens e mulheres – busca se expressar em outras frentes da cultura hip-hop. O movimento conta também com o DJ, músico operador de discos que faz bases rítmicas; o MC ou Mestre de Cerimônias que relata suas histórias através de articulações de rimas e trovas cantadas; e o grafite, expressões plásticas, pintura e desenhos estampados em escolas e muros da cidade.
A idéia da oficina de break é utilizar a música e a dança para formar uma consciência positiva nos jovens e permitir um canal de expressão dos anseios e sentimentos de uma realidade esquecida pelas autoridades, como demonstra um trecho do rap “Problemas da periferia” do MC Botinha. Morador do bairro Jardim Vitória há dez anos, ele canta: “Caminhando pelas ruas das periferias/ Muita miséria provoca violência/ Cresceu a falta d’água e a energia elétrica/ Buraco nas ruas, falta de saneamento/ Muita poeira e muita lama/ Quando chove… acabou com as nossas ruas/ Não passa carro, nem moto, nem bicicleta/ Estou ligado, é ano de eleição/ E eles vêm aqui à procura de voto/ Só confio em mim e na palavra de Jesus Cristo/ E só quem é daqui sabe dos problemas da periferia”.
A oficina de break é gratuita e aberta a toda a comunidade. O Espaço Vitória fica localizado na Avenida José Estevão Torquato, 999 – Jardim Vitória, Cuiabá.
Fonte: Instituto Centro de Vida (www.icv.org.br), com base em matéria de Protásio de Morais.