A ausência de espaços para a expressão artística da população de Arapiraca, que fica a 130 quilômetros de Maceió, na região agreste de Alagoas, foi a motivação principal para o surgimento da organização não-governamental Candeeiro Aceso. Das oficinas de artes plásticas, o grupo ampliou suas ações para áreas distintas da arte e da cultura, como o artesanato, teatro, música, cultura digital e realização audiovisual, transformando o cotidiano da cidade.
A fundação da ONG foi idéia de um grupo de amigos. A maioria deles estava retornando à cidade após uma temporada de estudos, já que também não existia instituição de educação superior. Segundo o artista plástico Antônio Albério, um dos idealizadores da organização, o cenário cultural do município, por volta de 2001, não dava oportunidade a praticamente nenhum evento mais expressivo.
“A gente não tinha nem um barzinho com música ao vivo”, ilustra. A partir desse ano, o coletivo começou a realizar atividades nos finais de semana como forma de fortalecer a cultura popular, incentivando o carnaval e promovendo músicos locais.
O processo de articulação ganhou peso e possibilitou a realização, a partir de 2003, do Festival de Artes de Arapiraca (Festa), que tem na programação shows, exposições, teatro de rua e saraus, entre outros eventos. O evento, na verdade, foi uma espécie de amadurecimento de eventos, chamados de “Manifestação Cultural”, que foram realizados anos antes em ruas e praças da cidade e provocaram a organização do Candeeiro.
Segundo Albério, o fortalecimento dos atores culturais da cidade, desde a criação da ONG, colaborou para pressionar o poder público municipal a priorizar os investimentos na área. “A prefeitura já responde às nossas colocações. Valeu muito por conta disso”, celebra. Nos últimos anos, além de ter sido criada a secretaria, foi realizada uma Conferência Municipal de Cultura. A partir do encontro, um conselho permanente foi instituído para gerenciar o fundo que deve apoiar o setor.
Organização premiada
No dia-a-dia, a organização mantém projetos que atendem a diversos públicos, como o programa Mambembe, que leva as ações para além da sede, com foco no fortalecimento das entidades que trabalham com crianças e adolescentes. A organização recebeu, em 2002, um prêmio do Banco Mundial e do programa Comunidade Solidária, do governo federal, pelo projeto da Incubadora Cultural do Agreste Alagoano (Ical), selecionado entre outros 100 participantes de todo o país.
A incubadora assessora a formação de empreendimentos econômicos por meio do apoio, capacitação e integração de produtores culturais. Como frutos do trabalho da Ical, já foram criadas uma companhia de teatro, uma associação de artesanato e uma microempresa de comunicação. Esta última, a Zóio Comunicação, já desenvolveu uma tevê na Internet, a Zoio TV,e oferece serviços na área de produção audiovisual e de conteúdos impressos e digitais.
A Candeeiro também é responsável por um Ponto de Cultura (projeto Lumiar) e por uma sede da Casa Brasil (projeto Ciranda Digital), projetos do Ministério da Cultura (Minc).
Além de manter as atividades existentes, Antônio Albério, que atualmente coordena o ponto, diz que agora a organização passa por um momento de “definição”. Segundo ele, a idéia é participar de forma mais decisiva do processo de formação de políticas públicas para a cultura.