Trabalhando com diversas linguagens ? vídeo, fotografia, jornal e rádio ?, cerca de sessenta jovens de diferentes bairros de Recife e Olinda (PE) participam de um projeto de Educomunicação, desenvolvido pela ONG Auçuba, através de sua Escola de Vídeo. O programa ?Canal Auçuba? promove, desde 2003, a criação de Núcleos de Comunicação Comunitária (NCC), onde são viabilizados produtos de comunicação com a participação dos adolescentes envolvidos.
Auçuba, em tupi, significa ?grande bom sentimento?. E foi neste embalo que foi criada, há quase 20 anos, a ONG pernambucana que articula Comunicação e Educação para promover os direitos de crianças e adolescentes. Precursora na abordagem da comunicação como proposta pedagógica, a Auçuba direciona seus projetos à área de produção cultural.
O primeiro projeto da entidade foi a TV Tucuxi, que deu origem à Escola de Vídeo. Voltada para adolescentes, a TV procurava desenvolver a perspectiva crítica em relação à mídia, utilizando o vídeo como fomentador de discussões.
Além de utilizar a comunicação como ferramenta educacional, a ONG também já compreendia os jovens como sujeitos autônomos com a potencialidade de transformação social, antes mesmo de ser disseminado o conceito de “protagonismo juvenil?.
Capacitação
A capacitação dura cerca de 18 meses. Os interessados ? estudantes de escolas públicas ? passam por uma seleção e, depois, por um trabalho intenso de formação em que são discutidas suas percepções sobre identidade e potencialidades de atuação na própria comunidade.
De acordo com Paula Ferreira, que coordena os NCCs, a Auçuba incentiva mais a produção de fanzines ? publicação manufaturada feita a partir de recorte e colagem ? e o fortalecimento das rádios comunitárias das localidades envolvidas. “Em algumas comunidades, é impossível trabalhar com vídeo, porque sai muito caro”, explica. Segundo ela, um dos bairros conta com uma base, criada no final de 2006, que concentra a estrutura do projeto e dá auxilio tecnológico a todos os coletivos de jovens envolvidos na formação.
Inicialmente, os jovens fazem o que eles chamam de “mapa afetivo”, uma espécie de censo realizado a partir da compreensão que cada um tem sobre a comunidade onde mora. “Eles conversam com os moradores, caminhando pelo bairro e visitando praças, escolas, creches”, detalha Paula. Depois, os participantes experimentam todas as linguagens, escolhendo a que vai ser trabalhada de forma específica no último período de formação. O resultado final do processo é a realização de um “Circuito Cultural”, quando são apresentados às comunidades os produtos oriundos do projeto.
A coordenadora, que já foi aluna do projeto, diz que uma das estratégias dos núcleos é envolver as escolas para dar guarida aos participantes que desejem continuar a produzir. Segundo Paula Ferreira, está sendo “amadurecida” a idéia de possibilitar, efetivamente, a autonomia dos grupos para que os jovens possam, como ela, permanecer atuando mesmo após o término do processo de formação.
Mais sobre a Auçuba
Além da Escola de Vídeo, o Canal Auçuba é desenvolvido através do programa Oi Kabum! Escola de Arte e Tecnologia, criado pelo Instituto Oi Futuro. Em Recife sob a responsabilidade da Auçuba, a escola proporciona aos jovens uma formação em linguagem multimídia. Ela também é mantida em Salvador (BA), pela ONG Cipó, e no Rio de Janeiro (RJ), pela ONG Spectaculu. Outro dos principais projetos da Auçuba é o trabalho como agência da Rede Andi Brasil, que estabelece um diálogo entre jornalistas e os atores sociais ligados à infância e à adolescência.
As matérias do projeto “Boas Ideias em Comunicação” são produzidas com o apoio do Banco do Nordeste do Brasil (BNB).