Agências da Organização das Nações Unidas (ONU) e instituições governamentais brasileiras, iniciativa privada e do terceiro setor reuniram-se, no dia 22 de março, Dia Mundial da Água, na Fundação Parque Tecnológico de Itaipu, em Foz do Iguaçu, para formular um documento de compromissos em torno da gestão da água no Brasil. A Carta de Princípios Cooperativos pela Água é baseada em acordos globais para a sustentabilidade e preservação do meio ambiente, como as Metas do Milênio e a Agenda 21. Seus signatários reconhecem a água como um bem universal e assumem a responsabilidade de promover ações e alinhar esforços para a preservação dos recursos hídricos.Entre outros objetivos, as instituições que fazem parte dessa iniciativa, denominada SOS H2O, se comprometem a melhorar a gestão do uso das águas, eliminar a poluição e os casos de doenças relacionados à falta de saneamento básico, criar incentivos ao uso sustentável da água e adotar programas de cunho educacional.Criado pela ONU em 1992, o Dia Mundial da Água, neste ano, teve como tema ?Lidando com a escassez de água?. Pesquisas recentes apontam que, mantidas as tendências atuais, mais de 45% da população mundial não poderão contar com a quantidade mínima de água para o consumo diário em 2050.Porém, a escassez de água já é uma realidade em muitos lugares do planeta. Hoje, cerca de 1,1 bilhão de pessoas não têm acesso a água potável, por exemplo. Nos países em desenvolvimento, esse problema aparece relacionado a 80% das mortes e enfermidades. A perspectiva de escassez põe em discussão o controle público e privado de um bem considerado essencial para a vida e exige inovações tecnológicas para as grandes questões da gestão das águas e seu uso racional, expansão industrial e agrícola, crescimento populacional, degradação dos mananciais e alteração do ciclo hidrológico, provocado principalmente pela urbanização e desmatamento.Radiografia brasileira Apesar de ter cerca de 12% da água doce do mundo, o Brasil enfrenta problemas em relação à disponibilidade. Conforme aponta o relatório GEO Brasil Recursos Hídricos, há uma enorme discrepância em relação à distribuição geográfica e populacional da água no país: a região amazônica abriga sozinha 74% da disponibilidade de águas do Brasil. Entretanto, é habitada por menos de 5% dos brasileiros.Além disso, o Brasil convive com outro aspecto que colabora para o quadro de escassez em algumas localidades. Além da poluição dos rios e nascentes, merece destaque a deficiência nos sistemas de coleta de esgotos. Hoje, pouco mais da metade (54%) dos domicílios brasileiros contam com esse serviço. As regiões com maiores coberturas ? Paraná e Sudeste ? não alcançam o índice de 70%; no outro extremo, a região do Parnaíba conta com 4% de coleta de esgoto.Há ainda a questão do desperdício. O setor que mais consome água no país é a agricultura, com cerca de 60% do total. O uso doméstico e o setor comercial consomem cerca de 20%, e o setor industrial é responsável por outros 15% do consumo. Os 5% restantes têm outras destinações. Todos esses consumidores tendem a usar a água de modo abusivo, por motivos que vão de problemas na irrigação à não-adoção de tecnologias mais avançadas nas indústrias, passando pelos banhos demorados e o abuso no consumo doméstico. Somente o reaproveitamento da chamada ?água cinzenta? ? resultante das lavagens e banho ? para a descarga de latrinas resultaria numa economia de um terço de todo o consumo doméstico, por exemplo.