Os nove bilhões de pessoas que habitarão a Terra daqui
a 40 anos poderão ser adequadamente alimentadas se mudarmos nossos hábitos
agrícolas e alimentares, pois 30% da produção atual ainda são inutilizados,
segundo dois institutos de pesquisa franceses.
Pesquisadores do programa Agrimonde reconstituíram as quantidades de alimentos produzidas
entre 1961 e 2003 para fazer projeções para os próximos 45 anos. Eles traçaram,
a partir disso, dois cenários.
“O primeiro cenário corresponde ao prolongamento
das evoluções históricas das produções e das utilizações de biomassa em um
mundo totalmente liberalizado”, dizem.
Eles supõem uma continuidade do crescimento dos
rendimentos agrícolas, mas também das terras dedicadas à criação de animais,
com o consumo de carne aumentando. Neste cenário, as desigualdades de acesso à
alimentação aumentam e os desgastes ambientais são tratados “somente a
partir do momento em que se tornam agudos”.
Alteração
sustentável
O segundo cenário aposta em uma ruptura, com a
humanidade adotando condições de desenvolvendo sustentável do planeta.
De acordo com este segundo cenário, a quantidade média
disponível em 2050 seria igual a 3.000 quilocalorias (kcal) por habitantes por
dia, dos quais somente 500 kcal de origem animal. Esta norma supõe de um lado
uma baixa de 25% dos consumos individuais nos países industrializados, e um aumento
equivalente na África Subsaariana, ressaltaram os autores da pesquisa.
Existe a possibilidade de enormes ganhos na luta contra
o desperdício, enquanto cálculos realizados em 2009 mostram que 30% da produção
de alimentos mundial continuam não sendo utilizados, segundo os pesquisadores.
Atualmente, 4.800 kcal são produzidas por dia por
habitante na Terra, mas 600 kcal são perdidas nos campos e 800 kcal, nas
cadeias de transformação e distribuição.
Como exemplo do desperdício, mais da metade da produção
mundial de alimentos é destinada à ração para animais de abate, para produção
de carne, mostra dossiê divulgado por ONGs.
Nos países industrializados, a produção de carne capta
uma parte importante das terras cultiváveis. São necessárias 7 calorias
vegetais para produzir 1 caloria de carne bovina ou ovina. Para os porcos ou as
aves, esta relação é de 4 para 1.
Dietas
distintas
Nos países da OCDE, há um crescimento regular para
chegar a 4.000 calorias por dia e por habitante, enquanto na África fica entre
2000 e 2500 calorias, destacou Gérard Matheron, diretor geral do Centro de
Cooperação e de pesquisa agronômica para o desenvolvimento (CIRAD).
“Historicamente, cada vez que o homem fica mais
rico, ele diversifica sua alimentação, para ter acesso a mais gordura e mais
açúcar”, lembrou Marion Guillou, presidente do Instituto Nacional de
pesquisa agronômica (Inra).
Portanto, reequilibrar o consumo de alimentos em escala
planetária não é nada impossível, mas exige um controle dos mercados e das
criações de animais, insistiu.
De fato, nos países ricos, o modelo de consumo está
saturado. Além disso, até 2050, “a idade média da população mundial vai
aumentar em 10 anos. E quando uma população envelhece, as necessidades
calóricas diminuem”, disse a pesquisadora Guillou.
No começo de 2009, o conselheiro científico do governo
britânico John Beddington projetou uma população sob crise global em 2030. Por
outro lado, o escritor de ambiente Fred Pearce insiste que enfocar na população
traz uma distração perigosa da questão real: o consumo.