Considerada um dos mais complexos desafios para organizações, sejam elas públicas, privadas ou de movimentos da sociedade civil, a avaliação é uma espécie de ?calcanhar de Aquiles? do campo social. No debate sobre o assunto, não faltam metodologias desacreditadas, projetos inovadores e polêmica na utilização dos mais distintos modelos e padrões.
No entanto, embora a discussão sobre o tema seja considerada imprescindível, não há um campo fortalecido no Brasil para isso. Com o objetivo de mudar esse quadro, o Instituto Fonte lança um programa que irá, nos próximos anos, articular uma série de ações voltadas para empresas, ONGs e universidades.
?O instituto atua há 10 anos no desenvolvimento do campo da avaliação no país. Nesse tempo, percebemos que o debate é muito incipiente e não existe uma comunidade de avaliadores?, explica Daniel Brandão, consultor associado do Instituto Fonte.
Ele afirma também que a produção teórica é muito reduzida, o que inviabiliza uma discussão crítica sobre avaliação. ?Não entendemos esse campo. Quem faz? Como faz??, argumenta.
O início dos trabalhos do Instituto Fonte está centrado em dois grandes projetos, com o apoio da Fundação Itaú Social. O primeiro será uma pesquisa sobre a visão de 200 empresas sobre o assunto. Ao mesmo tempo, pretende identificar e analisar a produção acadêmica brasileira. ?Esses dois eixos permitirão conhecer o estado da arte da avaliação no campo social?, garante Brandão.
Com a parceria do Instituto de Pesquisas e Projetos Sociais e Tecnológicos (IPSO), o programa pretende organizar, disponibilizar e caracterizar o que se estuda nas universidades, com a promoção de debates focais sobre o material. ?Pretendemos tornar mais acessível um conteúdo mais qualificado produzido na academia?, explica Brandão.
Paralelamente a esse trabalho, a pesquisa tem o objetivo de compreender como o setor privado percebe a avaliação de seu investimento na área social. Conduzido pela TNS-InterScience, empresa de pesquisa de mercado, e o apoio do Gife, o levantamento esmiuçará o processo de mensuração, desde de quando é implementado, até o quanto se investe e como é feito.
Dados
Levantamentos semelhantes mostram números discordantes sobre a avaliação por parte da iniciativa privada. Segundo censo realizado pelo Gife com seus associados, cujo investimento somado em iniciativas sociais chegou a R$ 1,15 bilhão em 2007, cerca de 72% das fundações e institutos e 74% das empresas fazem o monitoramento de todos os projetos. Dessas, 64% das fundações e institutos e 58% das empresas fazem avaliação de resultado de todos os projetos.
?Esse dado é muito positivo porque a cultura de avaliação de resultados ainda é muito recente no Brasil. Também porque realizar esse diagnóstico ainda é muito caro, principalmente para pequenos projetos. Uma avaliação chega a ser 15% dos custos totais das iniciativas?, lembra o secretário-geral do Gife, Fernando Rossetti.
No entanto, segundo dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), as empresas não têm sido tão eficientes quanto os associados ao Gife. De acordo com o instituto, o setor privado brasileiro investe cerca de R$ 5.3 bilhões por ano no campo social. O Gife representa apenas 20% desse montante, enquanto o resto do investimento está diluído em mais de 500 mil empresas.
Questionadas se possuem avaliações documentadas das ações sociais desenvolvidas, 79% (das 500 mil) disseram ?não?. As conclusões do instituto são enfáticas: embora tenham entusiasmo para fazê-la, os responsáveis não vêem essa mensuração como instrumento de transparência, e confundem avaliação com número de atendidos.
A preocupação com o tema é global. Em artigo escrito para o Gife, Fred Carden, diretor da International Development Research Centre and Research Fellow in Sustainability Science no Harvard?s Center for International Development, afirmou que o status quo da avaliação de desenvolvimento não basta.
?Enquanto a avaliação é relativamente forte na América do Norte e na Europa, em outras partes do mundo, é bem fraca. Se quisermos que a avaliação floresça no Hemisfério Sul (África, Ásia, América Latina), a pesquisa sobre o tema não pode continuar a ser reserva das instituições baseadas no Hemisfério Norte e de seus valores?, acredita.