A maioria dos jornais brasileiros costuma valorizar matérias sobre política ou economia. Temas como educação, desigualdades, preconceitos de sexo ou etnia, políticas públicas ou direitos humanos são abordados de forma pontual pelas redações. Esta situação se justifica, em boa medida, pela ausência destes temas na formação dos jornalistas nas universidades públicas e privadas do país.Depois de constatarem o problema, a Andi e a Fundação Kellogg resolveram implementar um projeto de cooperação para a qualificação desses estudantes. Dentre outras ações, o programa ?InFormação? vai oferecer 30 bolsas de R$ 300 para universitários interessados em desenvolverem Trabalhos de Conclusão de Curso (TCC) que façam a interface entre jornalismo/ comunicação e as políticas públicas sociais.A gerência do programa ?InFormação? ficará a cargo da coordenação de Relações Acadêmicas da Andi. Segundo o coordenador Guilherme Canela, a expectativa do projeto é estimular o aluno para que ele busque se aproximar do tema da agenda social durante, pelo menos, os seis meses de formulação do TCC. “Fazer bom jornalismo implica compreender as problemáticas centrais do contexto nacional. Para isso, a formação é essencial. O objetivo do programa é inserir esta temática na agenda dos profissionais de imprensa, a partir da universidade,” afirma Canela.Segundo a jornalista Marta Avancini, consultora da Unesco, estes temas estão ganhando mais atenção dentro da mídia. Contudo, eles ainda aparecem de forma localizada, e isso depende mais do interesse pessoal do repórter. “Normalmente, é o jornalista que corre atrás do assunto e, muitas vezes, os jornais acham que, com isso, estão dando conta do recado”, alerta. Para Avancini, que trabalhou durante oito anos em redações de jornais paulistas, falta uma melhor percepção por parte dos editores e dirigentes de jornais em levantar temas sociais na pauta dos veículos.”Numa redação, para uma pauta ser publicada, depende tanto do interesse da empresa, quanto da formação do jornalista. Assim, fazer tal discussão de baixo para cima [da universidade ao mercado] é importante porque pode quebrar essa cultura de se aprender apenas a técnica na faculdade”, enfatiza Avancini. De acordo com ela, um jornalista que consegue, por exemplo, fazer o vínculo de uma pauta sobre educação com desenvolvimento humano tem mais chances de realizar uma matéria mais aprofundada.Cooperação dentro da universidadePara Luiz Motta, professor de Comunicação da Universidade de Brasília, introduzir a discussão sobre a cobertura de temas sociais nos cursos de jornalismo é uma medida urgente. “Esses assuntos têm sido negligenciados. A agenda social recebe pouquíssima atenção apesar de ser a mais dramática questão brasileira”, afirma. O professor sugere a criação imediata de disciplinas que enfatizem a cobertura social, além de estimular os estudantes a acompanhar o tema através de programas de bolsas, como o que a Andi e a Fundação Kellogg estão desenvolvendo.Além do apoio ao Trabalhos de Conclusão de Curso, o programa ?InFormação? irá desenvolver outras ações de cooperação com as universidades, como um Concurso de Monografias, Dissertações e Teses; publicações focadas nos principais elementos da cobertura da agenda social; um banco de trabalhos acadêmicos e o apoio a disciplinas especiais nas universidades. Já está em andamento, em parceria com a Faculdade de Comunicação da UnB, uma disciplina obrigatória sobre crítica da mídia. Entre as discussões, os alunos são convidados a refletir sobre temas como desenvolvimento humano, desigualdade, direitos de crianças e adolescentes, educação, exploração e abuso sexual, questões de diversidade (cor, etnia, gênero, deficiências).Quem pode concorrer às bolsasPoderão concorrer às bolsas estudantes de graduação de quaisquer instituições de ensino superior brasileiras que estejam cursando, preferencialmente, Jornalismo. Outras áreas da Comunicação como publicidade, audiovisual, cinema, e demais áreas de formação também podem participar do processo de seleção desde que os projetos sejam co-orientados por um professor vinculado a um curso de jornalismo ou, excepcionalmente, Comunicação. As bolsas têm a duração de seis meses, e na sua primeira etapa beneficiarão trabalhos concluídos até 31 de julho de 2007.Temas da Agenda SocialOs temas prioritários da agenda social brasileira, considerados pelo programa, são: avaliação e monitoramento de políticas públicas, desenvolvimento humano, desigualdade, direitos humanos (especialmente os de crianças e adolescentes), educação, exploração e abuso sexual, medidas socioeducativas, Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, pobreza, questões de diversidade (cor, etnia, gênero, deficiências), questões orçamentárias, saúde, trabalho infantil e violência.InscriçãoOs interessados deverão fazer uma pré-inscrição no site do Programa “InFormação” (www.informacao.andi.org.br) e enviar, até o dia 8 de dezembro, o projeto original e a cópia do histórico escolar, conforme as regras do edital disponível na internet.