Um projeto pretende transformar a vila da Barra do Una, em Peruíbe (SP), na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Barra do Una, beneficiando a comunidade caiçara local e abrindo oportunidade para o desenvolvimento de atividades de pesca, cultura e ecoturismo. Localizada no litoral sul do estado, a vila é envolvida por um dos mais bem preservados remanescentes de Mata Atlântica do país e, desde 1986, a região é protegida pela Estação Ecológica Juréia-Itatins.Depois de 20 anos de luta pela manutenção da vila e da cultura caiçara na região, a comunidade aguarda a votação do projeto de lei 613/04, que propõe a criação do mosaico de áreas protegidas da Juréia. Composto por oito unidades de conservação, o mosaico permitirá a preservação do patrimônio biológico e do conhecimento tradicional associado à biodiversidade da Mata Atlântica. Serão 302 hectares em terra e 2.951 hectares no mar. Um levantamento realizado na comunidade indicou que a área tem vocação para desenvolver atividades em três eixos articulados: pesca, ecoturismo e cultura. “A idéia é que os ecoturistas possam apreciar a culinária e a cultura caiçara, facilitando a distribuição de renda entre os moradores e resgatando a auto-estima da comunidade”, explicou Plínio Melo, secretário executivo da Mongue ? ONG Proteção ao Sistema Costeiro.Principais desafiosNum encontro promovido pela ONG Proteção ao Sistema Costeiro, com apoio da Sociedade Amigos da Barra do Una (Sabu), e o patrocínio da Petrobras, em meados de outubro, os moradores apontaram seus principais desafios. O grupo de pesca falou sobre a necessidade de maior união entre os pescadores, da ampliação da área de manejo de pescado no rio Una e no mar, da implementação da fiscalização participativa e do estabelecimento de fiscalização do tamanho dos peixes. O grupo de ecoturismo foi dividido em três subtemas: infra-estrutura, capacitação e calendário. A comunidade apontou a necessidade de reformas no comércio, campings e restaurantes, e de melhoria no saneamento básico para recepção dos ecoturistas e para saúde dos moradores. A vila sofre com a contaminação por resíduos líquidos domésticos. Os moradores esboçaram um calendário de festas para ampliar o período de visitação, que hoje dura em média 60 dias, na alta temporada de verão. Em princípio, planejara criar as festas da Banana, do Peixe e Junina, e consolidar as tradicionais festas da Tainha e Caiçara. A idéia do calendário inclui intercâmbio com outras comunidades para promover o conhecimento mútuo e o respeito entre as culturas. No eixo de cultura, os moradores sugeriram a capacitação para o resgate e fortalecimento do artesanato tradicional caiçara. Também apontaram a necessidade de redirecionar o modelo de turismo, visando à valorização da cultura local, das festas, danças e da culinária. A implementação das propostas surgidas no evento depende da aprovação do projeto de lei pela Assembléia Legislativa Estadual. Até lá, os moradores deverão seguir o processo de mobilização e estabelecimento de diretrizes para o manejo da futura reserva de desenvolvimento sustentável. O processo na Juréia deverá subsidiar e fortalecer a consulta pública nacional sobre a proposta de regulamentação das reservas de desenvolvimento sustentável, em andamento, sob a coordenação da organização não-governamental WWF-Brasil.