Fazer com que pessoas sem deficiência visual experimentem as sensações de quem tem algum tipo de deficiência visual, possibilitando novas descobertas e novas formas de agir. Esta é a proposta da mostra ?Diálogo no Escuro?, principal atração do Museu do Diálogo, inaugurado em Campinas, no final de abril.
A experiência começa com dicas sobre como manusear uma bengala. Na seqüência, um grupo de cerca de oito pessoas entra em uma sala totalmente escura e conhece o guia cego que orientará durante o trajeto composto por salas temáticas. Sons de pássaros e água corrente estimulam a audição, enquanto os visitantes se descobrem pisando em pedras, grama, atravessando pontes, tocando folhagens e água que escorrega pelas pedras de uma cachoeira. Tudo na mais absoluta escuridão.
Para quem enxerga, a sensação inicial é de fobia e há quem relate um certo desespero, mas bastam poucos minutos para que os estímulos do ambiente acalmem o grupo, permitindo momentos de descobertas. Assim funciona o ?Diálogo no Escuro?.
Durante o trajeto os visitantes ainda passam por um bar, onde podem pedir, tomar e pagar um café expresso, cujo cheiro é um agradável guia pela escuridão. Também experimentam a sensação de estar em um barco em pleno oceano e, por último, passam por uma sala repleta de estímulos sonoros.
“Experiências assim permitem que as pessoas entendam o que os cegos passam,” afirma a velocista cega e recordista mundial Ádria dos Santos. “Isso ajuda a mudar o comportamento em relação a quem tem deficiência, pois as pessoas reavaliam seus conceitos sobre limites e capacidades.”
O museu é o primeiro permanente do país. Rio de Janeiro e Brasília já receberam exposições itinerantes, que replicaram as experiências dos museus permanentes instalados em Frankfurt, Hamburgo, Israel, Áustria, Itália e Holanda.
A mostra ?Diálogo no Escuro? é uma criação do filósofo e jornalista alemão Andreas Heinecke que, após conviver com um jovem jornalista cego, resolveu montar um projeto que funcionasse como um ambiente de aprendizado, em que as pessoas pudessem repensar seus estereótipos e estabelecer um diálogo com as diferenças.
“O Museu do Diálogo é sucesso permanente de público nos países em que está instalado. Muitos repetem a visita, pois relatam terem passado por uma experiência transformadora,” afirma Heinecke.
A deputada estadual (PSDB-SP) Célia Leão, que apresenta deficiência física, e o ator Marcos Frota, que interpretou o personagem cego Jatobá na novela América, da Rede Globo, são os padrinhos do Museu do Diálogo de Campinas.
Projeto em expansão
O Museu do Diálogo de Campinas será o primeiro em caráter permanente nas Américas e deverá ser o primeiro de uma rede nas capitais brasileiras. O local emprega vinte pessoas com deficiência visual e sete pessoas com outras deficiências, devendo chegar a empregar um total de quarenta funcionários nos próximos meses. Cerca de 90% deles terão alguma deficiência.
A área total do museu possui 1.310 m2, sendo que o Diálogo no Escuro funciona em um local de 500m2. O projeto prevê a construção de um espaço gastronômico, onde haverá jantares no escuro, espaços para realização de workshops e de atividades culturais.
O Museu do Diálogo fica no piso térreo do Shopping Galeria, na Rodovia D. Pedro I, km 1315, Campinas (SP).
Fonte: Sentidos (sentidos.uol.com.br ) , com base em matéria de Claudia Gisele.