Empresas de pequeno porte podem fazer investimentos planejados, monitorados e sistemáticos para projetos sociais de interesse público. Basta terem estratégia, criatividade e a perspicácia de entender as demandas da comunidade em que estão inseridas para trabalhar conjuntamente com sua população. Tais possibilidades foram debatidas no seminário ?Comércio Varejista e Sustentabilidade?, promovido pela Federação do Comércio do Estado de São Paulo (Fecomércio), no dia 5 de setembro. Nele, especialistas e investidores analisaram os principais desafios para os empresários que pretendem implantar práticas socialmente responsáveis em suas organizações.Embora estivessem no rol de palestrantes, grandes grupos investidores como o Pão de Açúcar e Wal-Mart – representados por Daniela Fiore e Paulo Pompilio, respectivamente -, um dos pontos fortes do evento foi a discussão de como os pequenos e médios empreendimentos podem iniciar seus próprios projetos sem vultosos aportes. ?A grande oportunidade do setor varejista é a sua capilaridade. Ele está pulverizado na comunidade?, afirmou o coordenador do Programa de Responsabilidade Social e Sustentabilidade no Varejo da Escola de Administração de Empresas de São Paulo (Eaesp), Fundação Getúlio Vargas, Jacques Gelman. Novas experiências
Entende-se como do setor de varejo o estabelecimento que dialoga diretamente com o consumidor final, sem intermediários. Nesse sentido, com o ponto vista da pequena e média empresa, ele é o supermercado de bairro, o açougue da rua, a padaria etc. ?O varejista é o elo entre o consumidor e fornecedor. Ele pode ser um catalisador de processos?, acredita Gelman. Um exemplo prático de como é possível iniciar um projeto social, sem gastar muito, vem do Distrito Federal. O que antes era apenas um açougue, vem se tornando, desde 1994, um dos mais irreverentes projetos culturais brasilienses. É o Açougue Cultural T-Bone, na Asa Norte de Brasília. Os donos criaram, dentro do açougue, nada menos que uma biblioteca com 40 mil livros ? começou com 10 volumes – que podem ser consultados ou retirados por qualquer pessoa da cidade. Não contentes, promovem noites culturais duas vezes por ano que já chegaram a reunir, na praça em frente, milhares de pessoas para assistir a shows de música popular e erudita, lançamento de livros e peças de teatro, entre outras atrações. A experiência não apenas é reverenciada pela comunidade, como também passou a receber apoio do Ministério da Cultura, Petrobras, Instituto C&A e da Universidade de Brasília. Outra experiência levantada pelos especialistas em responsabilidade social e investimento social privado no varejo é o caso do Supermercados Cardoso, em Jequié, Bahia. Em vez dos tradicionais sorteios de brindes para alavancar as vendas, o proprietário resolveu adotar uma postura mais ?social?. Nas cartelas a serem sorteadas, ele inscreveu 20 entidades beneficentes para o consumidor eleger como merecedora de um generoso prêmio em dinheiro, dado pelo supermercado. Enquanto a organização ganhava com o novo aporte de recursos, o consumidor recebia um vale-compra ? além da idéia de participar da ação social, mesmo que indiretamente.
?O supermercado nunca ganhou tanto com uma ação, pois as 20 entidades fizeram boca a boca para compras na loja. Mas, tínhamos a certeza que não levamos à comunidade qualquer transformação social?, lembrou o empresário Márcio Cardoso.
Com a idéia de que era possível conciliar o negócio com ações sociais, o supermercado não apenas criou um comitê de responsabilidade social, como deu início a uma política de investimento social privado em projetos de cultura, saúde, esporte. As ações envolvem conscientização à doação de sangue, campanhas para a coleta seletiva de lixo e apoio a cooperativas de catadores, incentivo a novos atletas e prática de esporte dos colaboradores, entre outras.
?A empresa não apenas adquire status com o consumidor, mas percebe uma diferença na motivação dos funcionários. Também existe um reconhecimento do poder público, de que você faz algo diferente?, argumentou Cardoso.
Consumidor
O ?status? apontado pelo empresário Márcio Cardoso pode ser identificado nos dados apresentados pelo diretor-presidente do Instituto Akatu Helio Matttar, durante o evento. Divulgada pela organização em março de 2008, a Pesquisa 2006 e 2007 ? Responsabilidade Social Empresarial ? Percepção do Consumidor Brasileiro aponta que cerca de 43% dos consumidores brasileiros esperaram que as empresas tenham ações de investimento social privado.
?O varejo está pressionado pelo lucro trimestral, tal como pelas exigências dos consumidores. O que pode ser feito é começar com poucas práticas. Talvez não consigamos lutar contra o consumo competitivo, mas oferecer boas ações?, crê Mattar.