Somos 47.238 em 27 estados
e 1.874 municípios
  • Login
  • Seja um mobilizador
  • Contato
    • A A A
Busca avançada

Notícias

Erradicação da Miséria

Renato Maluf: sistema alimentar global produz comida abundante de baixa qualidade


21 de julho de 2017

O atual sistema alimentar global tem sido capaz de produzir muita comida. Inclusive de baixo custo. Mas é comida ruim. Desta forma Renato S. Maluf, professor do Programa de Pós-Graduação de Ciências Sociais em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), resumiu o que considera ser o principal problema do sistema alimentar mundial atual, e seu correspondente modelo de produção agrícola, baseado em monoculturas e no uso de produtos químicos que afetam a biodiversidade, o meio ambiente e as culturas alimentares dos povos.

Ex-presidente do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea), Maluf foi convidado a proferir palestra sobre a experiência brasileira nesta área, no dia 27 de junho, na série de seminários Food Thinkers (Pensadores da Alimentação). O evento é organizado pelo Centro de Políticas Alimentares da Universidade da Cidade de Londres, na Grã-Bretanha, Centro ao qual esteve ligado como pesquisador visitante nos meses de maio e junho. A palestra teve como título “A abordagem intersetorial da segurança alimentar e nutricional no Brasil: como ela foi construída e como se encontra hoje”.

Em sua fala, o professor avaliou que há um excesso de poder concentrado em grandes corporações internacionais, que interferem no que produzimos, como produzimos e, em muitos sentidos, na cultura alimentar. “Isto significa que o sistema alimentar atual tem sido capaz de produzir muita comida, e comida barata. Mas está muito distante de proporcionar uma dieta de qualidade, em termos de variedade etc.”, disse.

O ex-presidente do Consea acrescentou que o setor agrícola foi dominado pelo modelo de monoculturas, baseadas no uso de produtos químicos, em detrimento da agricultura diversificada e do conhecimento tradicional, o que vem afetando a biodiversidade, o meio ambiente e com muitas implicações sociais resultantes.

“Por isso, diria que estamos em um momento importante, em que as periódicas crises alimentares e o crescimento constante do sobrepeso e da obesidade são reflexos de uma dieta alimentar pobre, que reflete os principais problemas causados pelo sistema atual”.

Sociedade Civil

Para Renato S. Maluf, a sociedade civil tem papel crucial a desempenhar em relação à alimentação. “E já está desempenhando este papel. Tanto globalmente quanto em muitos países, como o Brasil”. O principal deles, destaca, “é exercer a crítica sobre as tendências do sistema alimentar dominante, como já mencionei”. E, ao mesmo tempo, criar propostas alternativas em termos de como organizar a produção de alimentos e o consumo.

Em segundo lugar, enfatizou o pesquisador, a sociedade civil deve atuar pela mobilização e organização social da população. Neste aspecto, Renato S. Maluf citou as organizações de pequenos agricultores e também as organizações de consumidores em todo o mundo.

Há ainda um papel a desempenhar em termos de apresentar propostas de políticas públicas, um papel que no ponto de vista do professor é fundamental neste como em outros campos. “Temos de superar a centralização de autoridade que ocorre no estilo tecnocrático de fazer políticas públicas, a fim de ter a sociedade civil realmente engajada na elaboração e monitoramento desse processo. Então, eu vejo a sociedade civil nestes três papeis primordiais”.

Participação acadêmica

Outro ponto destacado pelo professor convidado para o seminário Food Thinkers em Londres foi a importância da participação da academia em todo o processo. “Costumo pensar na academia como uma parte da sociedade civil. Não gosto de pensar na universidade como um mundo separado. Mesmo sabendo, sendo eu mesmo um acadêmico, que as universidades muitas vezes se comportam assim. Não é o jeito certo”, ressalvou.

Para Maluf, a academia tem muitas necessidades, em termos de produção de conhecimento. “Isso é, com certeza, uma responsabilidade acadêmica. Mas a academia precisa reconhecer que há diversas formas de produzir conhecimento. Então, temos um papel a desempenhar ao fazer pesquisas. Mas temos de fazer isso reconhecendo que você tem conhecimento sendo produzido de outras formas, pelos movimentos e grupos sociais”.

Como exemplo, o pesquisador lembrou o conhecimento de sementes por parte de produtores tradicionais, que não é organizado de uma forma acadêmica. Mas ele acredita que os acadêmicos devem fazer uma reflexão sobre tais conhecimentos tradicionais e dar apoio a eles.

Além disso, Renato Maluf apontou ainda o papel da academia de exercer a crítica sobre o que acontece no mundo. Ele considera dever dos acadêmicos repassar conhecimentos às pessoas de forma a ajudá-las a desenvolver sua consciência acerca da relação entre a economia, alimentação e sobre as novas possibilidades que surgem com o conhecimento.

O jeito brasileiro

Por fim, o professor falou da relação entre a academia e os governos. Recordou que os acadêmicos são frequentemente convocados a ajudar a mobilizar a participação e o engajamento da sociedade. “Mas não acho que devamos ter um papel privilegiado como especialistas. Reconheço que somos especialistas, mas não temos o monopólio do conhecimento”, adverte.

Na visão de Renato S. Maluf, o mundo acadêmico e tudo que ele produz devem ser compartilhados com todos os segmentos sociais e no diálogo com os governos, de forma a que se alcance as melhores políticas pública e, especialmente, políticas participativas.

“Para mim, essa é uma contribuição importante do Brasil”. Segundo ele, nossa experiência tem sido colocar os acadêmicos não como um corpo em separado, mas ao lado da sociedade, todos juntos como parte de um debate para criar as políticas e regras necessárias ao país.

Fonte: Rede Nutri

 

Compartilhar:
Imprimir: Imprimir

Conteúdo relacionado

  • Jornada Cidadania e Inovação é lançada em setembro
  • LABetinho oferece minicursos gratuitos
  • Rede COEP lança o PodCast Cidadania em Pauta
  • Manifesto da UFSC contra extinção do CONSEA
  • Manifesto pela não extinção do Consea
  • Nota da ASA Contra a Fome e em Defesa do Consea

Deixe um comentário Cancelar resposta

Você precisa fazer o login para publicar um comentário.

Comentários



Apoiadores


Realizador