Desde o fim de 2007, a equipe do laboratório de Ciências Químicas da Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf) vem trabalhando intensamente em uma alternativa para o combate ao Aedes aegypti, mosquito transmissor da dengue. O projeto une a reciclagem de uma matéria-prima bastante usada nos lares brasileiros, o óleo de cozinha, a essências naturais de plantas com reconhecidos poderes repelentes. A idéia é chegar a um produto eficaz, mas também simples e barato: um sabonete que mantém os mosquitos afastados de quem o utiliza, por várias horas. O sabonete repelente, que está sendo elaborado pelo grupo do professor Edmilson José Maria, surgiu da preocupação com os crescentes casos de dengue no estado – em particular, na cidade de Campos -, e sua disseminação entre as camadas mais pobres da população. ?Vimos que a incidência de casos aumenta, e que a conscientização para evitar criadouros do mosquito não está sendo levada a sério. Assim, pensamos em mais uma alternativa no combate à dengue, repelindo o mosquito no período em que ele mais atua, o diurno?, explica o pesquisador. A opção por um repelente em forma de sabão deve-se ao fato de ser uma alternativa de proteção a baixo custo. Segundo o professor, o produto vai atender as pessoas de baixa renda, que não têm acesso a sprays inseticidas ou repelentes.
A equipe que desenvolve o sabonete faz parte do grupo de trabalho para produção do biodiesel da Uenf e aproveita a glicerina ? subproduto do óleo de cozinha ? e essências de plantas bastante conhecidas, como a citronela, o capim-limão e o cravo-da-Índia. ?A coleta de óleo é feita nos diversos segmentos da sociedade, mas queremos reverter parte dessa doação em benefício dos doadores, para o desenvolvimento do município. Nas associações de moradores, por exemplo, queremos criar opções de geração de emprego e renda; nas escolas públicas, queremos mostrar, através do enriquecimento curricular e da contextualização nas aulas de ciências, como é a formulação para a produção de sabão e de biodiesel?, conta o professor Edmilson.
As substâncias usadas na formulação do sabonete já têm ação repelente comprovada, não apenas contra o Aedes aegypti, mas também contra alguns outros mosquitos mais comuns. ?Para combatê-los, empregamos o citral, extraído do capim-limão; o citronelal, da citronela; e o eugenol, encontrado no cravo-da-Índia?, diz Edmilson. Com objetivo de aumentar o tempo de atuação sobre a pele para mais de seis horas, o grupo também acrescentou à formulação outras substâncias, mantidas em sigilo.O professor Edmilson já foi contemplado anteriormente com bolsas de Iniciação Científica da Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj) para estudantes de sua equipe, e apoios para a realização de eventos institucionais. Agora, ele aguarda os resultados de seu atual trabalho para submetê-lo ao próximo edital de Inovação Tecnológica da Uenf. O pesquisador espera que o sabonete desenvolvido pela universidade desperte o interesse da indústria e chegue ao mercado até o final do ano. ?O produto poderá gerar patente para a Uenf?, ressalta. Enquanto as pesquisas prosseguem, um laboratório carioca, especialista na área animal, já demonstrou interesse nos estudos. ?O sabão de citronela não chega a ser novidade. Já existe comercialmente na área veterinária, para animais como cachorros, gatos e cavalos, já que mosquitos que picam esses animais podem transmitir ao homem doenças, como a filariose ou a leishmaniose, atualmente uma enfermidade que se mostra reincidente?, ressalta Edmilson.
O grupo também deseja estabelecer parcerias com outras instituições de pesquisa. ?A Fiocruz [Fundação Oswaldo Cruz] já realizou estudos sobre andiroba. Talvez haja a possibilidade de trocar informações. Projetos como esses devem ser interdisciplinares. Seria bom contar com o conhecimento de outras áreas, como a farmacologia. Troca de experiências e conhecimento, ou mesmo a realização de trabalhos conjuntos, é sempre enriquecedora?, diz o professor. Também faz parte da pesquisa investigar substâncias que possam ser usadas para atrair o mosquito e armadilhas que o eliminem. ?Tudo isso sempre a custo baixo para a população?, conclui.
Com informações de Vilma Homero / FAPERJ