Segundo dados das Nações Unidas, as mulheres são mais vulneráveis à pobreza. Responsáveis pela execução de dois terços do trabalho mundial, elas acumulam apenas um décimo das receitas. Para tentar minimizar a situação, mulheres negras de três bairros da Península de Itapagipe (Salvador, BA) são o foco de um projeto inédito na América Latina: a criação do Fundo de Inclusão Educacional das Mulheres Afrodescendentes (Fiema).
A Península de Itapagipe foi escolhida para receber o projeto por concentrar mulheres afrodescendentes marginalizadas, sem acesso à escola e às oportunidades de emprego. Em três anos, pretende-se mudar trajetórias de mil mulheres dos bairros de Massaranduba, Jardim Cruzeiro e Uruguai. A proposta é desenvolver uma formação profissional integral, que envolverá ainda questões de cidadania, gênero, raça e higiene. Dois por cento dos recursos do Fundo Municipal de Educação serão destinados ao Fiema. O projeto é resultante da cooperação técnica entre Ministério Público, prefeitura de Salvador, Fundo das Nações Unidas para a Mulher (Unifem) e Agência Espanhola de Cooperação Internacional (Aeci).
No dia 13 de fevereiro, representantes dos moradores de Itapagipe – com o envolvimento da Comissão de Articulação e Mobilização dos Moradores da Península Itapagipana (Cammpi) – participaram de uma oficina, realizada na Organização Fraternal São José, para identificar os principais problemas enfrentados por essas mulheres atingidas pela fragilidade social.
“Nós, mulheres, somos as mais pobres e sofremos os efeitos dessa pobreza e da vulnerabilidade”, explicou a representante do Instituto de la Mujer, com sede em Madri, Isabel Castellvi, que acompanha a elaboração do projeto. Segundo a assessora de ensino da Secretaria Municipal de Educação, Darci Xavier, o projeto está voltado para mulheres a partir de 25 anos, alfabetizadas, que receberão formação educacional, com recorte social, além de um trabalho de motivação pessoal e elevação da auto-estima.
“Essas mulheres são chefes de família, deixaram a escola cedo e que, em sua maior parte, trabalham na informalidade, como domésticas, lavadeiras e artesãs”, afirmou Xavier. A defasagem educacional e a informalidade das atividades são apontadas como fatores para a vulnerabilidade social das mulheres negras.
Membro da Associação dos Moradores do Conjunto Santa Luzia, no Uruguai, Marilene da Conceição Nascimento, esclarece que, além do ensino formal, o projeto delineia outros atrativos para aproximar essas mulheres do projeto. “Podemos trabalhar com a educação num viés que vai proporcionar a essa mulher reinserção no mercado de trabalho com qualificação. Este é um atrativo”, declarou ela.
Fonte: Correio da Bahia (www.correiodabahia.com.br), com base em matéria de Mariana Rios.