Um grupo de 44 mulheres de três assentamentos ? Banco da Terra, Wilson de Medeiros e São José Operário – na região de Pedra Preta, a 243 km de Cuiabá, Mato Grosso, transformou a tecelagem artesanal em uma fonte de renda. Elas integram o projeto ?Cores do Algodão?, que nasceu em fevereiro de 2004 como uma das ações do Projeto de Desenvolvimento Sustentável da Cotonicultura Familiar do Estado de Mato Grosso. A iniciativa é capitaneada com a Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado (Fetagri), que recebeu pronta participação do Sebrae no estado, da prefeitura municipal de Pedra Preta, Empresa Mato-grossense de Assistência Técnica e Extensão Rural (Empaer) e do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Pedra Preta.
Utilizando algodão colorido doado pela Fetagri e branco de fazendas da região, as artesãs fazem fios e tecem xales, mantas, tapetes, cachecóis e muitas outras peças. Antes, a renda dos assentados vinha quase exclusivamente do leite, e as mulheres, donas de casa, precisavam pensar em uma alternativa para aumentar a renda familiar.
Neste ano, elas estão se organizando para dar um importante passo. Vão criar uma cooperativa para que possam ampliar ainda mais as vendas. ?Estamos compondo o estatuto da cooperativa que irá integrar as mulheres dos três assentamentos?, explica a coordenadora do projeto no município Iraci Ferreira de Souza, contando ainda que estão fazendo uma parceria com a prefeitura para a construção de um ponto de venda dos produtos na cidade, que será também sede da cooperativa.
Além de vender as peças prontas, elas comercializam também fios para outras cooperativas da região, como a Fibra Nativa de Rondonópolis e Fibra do Cerrado, de Primavera do Leste. ?Nosso sonho é vender para o exterior e para isso a qualidade é muito importante, bem como atender as exigências do mercado?, observa Iraci de Souza.
Ainda em 2007, o algodão vai passar a ser produzido nos próprios assentamentos. ?No mês de fevereiro, foram plantados três hectares de algodão colorido, e a primeira colheita está prevista para julho?, resume Adelar Umberto Schons, engenheiro agrônomo da Fetagri e coordenador do projeto de Desenvolvimento Sustentável da Cotonicultura Familiar do Estado de Mato Grosso.
?A intenção é trabalhar com a cadeia toda, desde o plantio até a comercialização do produto acabado?, descreve, acrescentando que Mato Grosso produz 54% do algodão do país e que é uma cultura viável para o pequeno agricultor se tiver uma cadeia completa e organizada, especialmente com indústrias próximas dos pólos produtores.
Luiza Alves de Andrade Barboza, de 56 anos, é uma das assentadas que integra o projeto. Ela e as outras mulheres do assentamento Banco da Terra, o mais próximo do núcleo urbano (20 km de Pedra Preta), trabalham em um galpão construído pela prefeitura. Segundo a artesã, mãe de dois filhos já casados e avó de três crianças, trabalhar com o algodão é muito bom. ?Esse trabalho é uma renovação?, avalia, contando que sempre trabalhou como doméstica nas fazendas em que o marido era empregado ou então no trabalho braçal no campo.
Para Lucélia Teodoro de Freitas Oliveira, que tem 29 anos e é coordenadora do grupo de mulheres do assentamento São José Operário, a 100 km de Pedra Preta, este é um trabalho que a descansa da dura rotina do trabalho doméstico, sem falar que possibilitou uma mudança na vida em casa com o marido e os dois filhos (com 6 e 11anos). ?A gente começa a ver o mundo de uma outra forma, aprende sobre cooperativismo e percebe o quanto somos individualistas?, analisa, complementando: ?Eu quero deixar para os meus filhos uma lição sobre a importância de lutar sempre, porque nem todo mundo tem tudo?.
Por enquanto, as vendas são realizadas em feiras e eventos em todo o Brasil. Como muitas são feitas para estrangeiros, as peças estão sendo conhecidas em outros países. ?Nós ainda não temos uma renda fixa, só recebemos quando vendemos, mas vale a pena?, conclui Lucélia Oliveira, na certeza de que irão crescer e conquistar o mercado.
Fonte: Agência Sebrae de Notícias (asn.interjornal.com.br ), com base em matéria de Rita Comini e João Carlos Bertoli.