Com o apoio do Sebrae-SP, a cafeicultura paulista certificada com o selo Fair Trade (Comércio Justo) se valoriza no interior do estado. A produção dos municípios de Pratânia e Dois Córregos, que soma 850 sacas do tipo arábica, foi comercializada em agosto com acréscimo de 35% sobre o preço praticado no mercado.
?As primeiras vendas são resultado do empenho e dedicação desses grupos de produtores, que quebraram vários paradigmas, como aceitarem consultoria empresarial, submeter-se ao reaprendizado e ter humildade em perceber e aceitar as mudanças?, define Milton Debiasi, gerente regional do Sebrae-SP em Bauru e Botucatu.
Para conseguir a certificação, o agricultor precisa cumprir o protocolo de Boas Práticas Agrícolas. Um manual que prevê a construção de galpões adequados para armazenagem do café, de um espaço para guardar os agrotóxicos com segurança, além do manejo da plantação com o uso de produtos que causem menos impacto à saúde das pessoas, animais e meio ambiente.
Uma política que foi seguida à risca pelos cafeicultores dos municípios de Pratânia e Dois Córregos. O resultado: mais lucro e conquista de novos mercados.
?Conseguimos obter 35% de acréscimo sobre o valor de mercado dos grãos de café e aumentamos o lucro de todo o grupo?, conta Luís Carlos Josepetti Basseto, presidente da Associação de Produtores Rurais de Pratânia. A saca de 60 quilos de café certificado foi vendida por R$ 450, enquanto o preço de mercado não é superior a R$ 290.
A produção de Pratânia, que rendeu 320 sacas, foi vendida para uma empresa de Santos, no litoral paulista. As sacas serão exportadas para Europa e Japão. A associação, que conseguiu uma adesão de 17 cafeicultores ao selo, tem a meta de escoar mais cinco mil sacas certificadas até o fim de 2010.
A atividade cafeeira vive um momento de crise no Brasil. O cafeicultor mal consegue cobrir os custos de produção por conta da baixa valorização da saca. O selo Fair Trade é uma alternativa para o produtor que ainda consegue investir, ganhar mais mercado e lucrar.
Em Dois Córregos, a Associação dos Cafeicultores aderiu ao selo Fair Trade e conseguiu bons resultados com os 14 agricultores que abraçaram a proposta. Em agosto, venderam 530 sacas de café arábica para uma empresa mineira de Poços de Caldas, que já sinaliza fidelidade comercial.
?O preço da saca do café certificado está entre 15% e 20% mais valorizado que o de mercado. Isso estimula e recompensa os três anos de adequações às normas das Boas Práticas Agrícolas, primordiais para a conquista da certificação?, pontua Sandro Gregolin, presidente da Associação dos Cafeicultores de Dois Córregos.
Esforços
Para garantir um produto de qualidade com selo do Fair Trade, os cafeicultores de Pratânia realizaram mudanças pontuais em suas propriedades, seguindo o protocolo de Boas Práticas Agrícolas. ?O investimento é de baixo custo, porque a maioria dos produtores já possui locais de armazenamento que antes ficavam ociosos e, após a consultoria, passou a aproveitar o espaço?, ressalta José Antônio Rezende da Silva, consultor de agronegócios e classificador de café com registro no Ministério da Agropecuária, Pecuária e Abastecimento. Ele acompanha o avanço da capacitação empresarial das associações de cafeicultores em todo o estado de São Paulo, inclusive em Pratânia e Dois Córregos.
Um outro esforço dos agricultores de Pratânia para obter o selo foi a destinação correta das embalagens vazias de agrotóxicos. Além disso, também cumpriram exigências de caráter social, como oferecer condições adequadas de moradia, alimentação e educação aos empregados e seus familiares.
?O processo de certificação depende dessas condições e os produtores rurais da associação devem se adequar, caso contrário, não se obtém o selo?, enfatiza Basseto. ?Fizemos a primeira venda das sacas de café, e outras ainda virão. Estamos satisfeitos ao saber que o café produzido em nossas terras será consumido na Europa, Estados Unidos e Japão?, conclui.
Para aumentar a qualidade dos grãos de café e conquistar mais mercado, a Associação dos Produtores de Pratânia firmou parceria com a Universidade Federal de Lavras, em Minas Gerais. ?Acreditamos que a pesquisa científica irá favorecer a qualidade do produto e conseguir a satisfação dos compradores?, acrescenta Basseto.
Selo deve ser meta
Conquistar a certificação é o desejo de todo produtor rural, independentemente do tipo de produção. Segundo o vice-presidente da Comissão Nacional do Café e presidente do Sindicato Rural de Bauru, Maurício Lima Verde, um produto com selo de certificação garante mais comércio e credibilidade. ?Na Europa, por exemplo, 95% dos produtos comercializados são providos de certificação, um fator gerador de credibilidade e procedência segura?, explica.
Lima Verde reitera ainda que, especificamente no caso do café, o consumo interno do Brasil gira em torno de 20 milhões de sacas, e o percentual de produto certificado não chega a 20%. ?A busca por um selo é o início de um processo de consciência das associações de produtores, que são organizações civis preocupadas em se planejar melhor, tanto dentro da propriedade quanto fora dela, à procura de mercado consumidor?, diz.
O coordenador estadual dos projetos de cafeicultura do Sebrae/SP, José Carlos Gomes dos Reis Filho, também destaca que a certificação do Fair Trade é uma oportunidade de o pequeno produtor explorar melhor esse nicho de mercado. ?A relação custo-benefício é atrativa, porque agrega valor ao café, e o mercado está disposto a pagar mais?, comenta.
Café em números
A pesquisa “Tendência do Consumo de Café 2009”, realizada pela Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic), mostra que o consumo de café per capita vem crescendo no Brasil desde 2003. O levantamento aponta que o país supera, inclusive, os Estados Unidos, maiores consumidores da bebida.
A maior oferta de café em cafeterias, restaurantes e hotéis influencia a tendência de aumento no consumo brasileiro, que registrou crescimento de 170% de 2003 a 2009. Neste ano, o país deverá alcançar a marca recorde de 19,6 milhões de sacas consumidas. O número será 7% maior ao registrado em 2009, quando foi de 18,4 milhões de sacas.Com informações Portal do Agronegócio (www.portaldoagronegocio.com.br) / Janice Sato.