Moradores de zonas rurais, populações indígenas, afrodescendentes e pobres são os que mais enfrentam dificuldades de acesso à água e saneamento na América Latina. A conclusão é do boletim quadrimestral da infância e adolescência sobre o avanço das Metas do Milênio, produzido conjuntamente pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e pela Comissão Econômica para a América Latina e Caribe (Cepal). De acordo com os dados, o acesso inadequado ao saneamento e à água potável afeta 55,4% e 49,3%, respectivamente, do grupo de crianças e adolescentes de até 18 anos da população dos 20% mais pobres. Esses índices baixam param 23,2% e 17,9%, respectivamente, na população dos 20% mais ricos.
O boletim também informa que, ao se observarem os contrastes por origem étnica, chama a atenção o fato de que crianças e adolescentes indígenas e afrodescendentes são os que mais sofrem privação desses serviços. De acordo com o estudo, o problema se agrava quando se trata de acesso desses grupos a saneamento em zonas rurais, onde a carência dos dois serviços afeta 84,3% de indígenas e afrodescendentes até 18 anos, enquanto para o resto da população do mesmo segmento o índice cai para 66,1%.Sete países apresentaram informações sobre as diferenças de acesso por etnia. Segundo o coordenador do escritório do Unicef em Belém Fábio Atanásio, é um desafio para a América Latina, inclusive o Brasil, eliminar essas diferenças: “O Brasil ainda é um país injusto. Essas populações mais vulneráveis sofrem mais as conseqüências da ausência de oferta dos serviços até por conta dos níveis de renda, as condições de moradia. A localização, a etnia das pessoas definem o acesso ou não?, disse. No caso do Brasil, o coordenador geral de Engenharia Sanitária do Fundação Nacional de Saúde (Funasa) Johnny Ferreira dos Santos lembrou que existe um programa de investimento para o período 2007/2010 para atender à população indígena. A previsão é de investimentos de R$ 200 milhões no abastecimento de água e saneamento. ?A idéia é disponibilizarmos esses serviços, no final de 2010, para cerca de 90% da população indígena residente em aldeias?, afirmou. Ele esclareceu que no caso do esgoto, devido à localização remota das aldeias, não são implantadas redes coletivas, mas soluções específicas para cada localidade. Em 2006, 62% da população indígena residente em aldeias contavam com acesso a esses serviços. No caso dos afrodescentes, a previsão de investimentos até 2010 é de R$ 170 milhões, valor que vai atender a 380 comunidades quilombolas. ?Com isso teremos cerca de 450 comunidades com serviço de saneamento, atendendo aquelas de maior porte populacional?, afirmou. Atualmente, existem 3,2 mil comunidades quilombolas identificadas, sendo que desde 2004 foram 70 as atendidas com esses serviços.Crianças e jovens
O estudo revela que um terço das crianças e adolescentes, com idade até 18 anos (35,3%), carece de acesso adequado à água potável em suas casas, enquanto entre os adultos a carência atinge 27,4%. No caso do saneamento, a situação é ainda mais grave. Na América Latina, 42,7% de crianças e adolescentes não têm acesso, enquanto na população adulta esse índice cai para 36,7%.
De acordo com o boletim, a carência desses serviços afeta mais as crianças com até cinco anos. Nos 15 países pesquisados, quase 21 milhões delas não têm acesso adequado a saneamento e o resultado é a alta ocorrência de mortalidade e subnutrição infantis. ?A prevalência das doenças ocorre pela dificuldade que essas crianças têm de se proteger. Elas sãos muito vulneráveis para se proteger das condições adversas do ambiente?, avaliou o coordenador do escritório do Unicef em Belém Fábio Atanásio.
No caso da água, cerca de 17,5 milhões de crianças com até cinco anos de idade sofrem com a falta de acesso adequado. Entre os 15 países pesquisados, o Brasil ficou em 10º lugar no ranking de dificuldades de acesso à água e ao saneamento entre a população com idade até cinco anos. Nas piores posições ficaram países como a Nicarágua, Honduras, Bolívia e El Salvador, onde o percentual de crianças nessa faixa etária com dificuldades de acesso a esses serviços alcança 69%, 50%, 65% e 49%, respectivamente. A média latino-americana é de cerca de 20%. Fonte: Agência Brasil (www.agenciabrasil.gov.br ) com base em matéria de Kelly Oliveira.