Oito por cento da população brasileira se considera de cor preta, conforme dados da Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílio (PNAD) de 2013, divulgados dia 18 de setembro pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em 2004, esse número era de 5,9%. Ainda segundo a pesquisa, 45% dos brasileiros se consideraram de cor parda. Juntos, eles somam 53,1% da população. O crescimento, em 10 anos, de pessoas que se declaram pretas subiu 2,2%, ou 5,4 milhões de pessoas. Quase duas vezes a população de Alagoas.
Para o sociólogo Carlos Martins esse movimento é positivo, porém tímido. Ainda há no Brasil, segundo ele, uma negação em ser negro. “Somos a segunda maior nação negra do mundo, atrás apenas da Nigéria, mas nosso padrão de beleza é o branco europeu”.
“Se boa parte das pessoas que se dizem brancas forem postas ao lado de um alemão, elas não serão mais brancas”, explicou.
Para o sociólogo, o problema de as pessoas se afirmarem negras é a referência que elas estabelecem com o que é ser negro. “A referência é o negro africano. E no Brasil, os negros e os brancos não são iguais aos africanos e europeus”, continuou.
Valdice Gomes é presidente do Conselho Estadual de Promoção da Igualdade Racial e membro da coordenação da Comissão Nacional de Jornalistas pela Igualdade Racial (Conajira). Para ela o país avançou muito nesse quesito nos últimos anos, mas ainda há um longo caminho a percorrer.
“A criação do Estatuto da Igualdade Racial prova que o Brasil reconheceu que existe racismo em nossa sociedade. Mas é preciso realizar campanhas para que os negros se afirmem nessa condição”, explicou.
Ela se refere a várias campanhas realizadas durante o Censo em 2010, inclusive de forma oficial pelo governo federal. Nelas se estimulava que os negros se declarassem como tal, como forma de combater o racismo no Brasil.
Políticas
Carlos Martins destaca a importância das políticas afirmativas. Segundo ele, elas fazem que as pessoas se declarem negras para ter acesso a essas políticas. “Isso vai criando o reconhecimento na questão subjetiva. Com o tempo, teremos outro espectro social no Brasil. Passaremos a ter também uma classe média negra no país”.
Valdice Gomes destaca a importância das políticas afirmativas. Para ela, as pessoas negras, antes da implantação desses instrumentos, tinham vergonha de se reconhecerem negras.
“Os negros não se sentiam valorizados. Achavam que não tinham direitos. Sem dúvida as políticas afirmativas contribuíram muito para o aumento na autodeclararão nas pesquisas do IBGE”, afirmou.
Fonte: Tribuna Hoje