Usado como matéria-prima para produção de móveis, artesanato e fibras têxteis, o bambu pode se tornar agente de resolução do déficit habitacional do Brasil. A partir de iniciativa do arquiteto Ricardo Nunes, o material foi utilizado em dois protótipos de habitação popular no Parque da Sementeira, em Aracaju (SE). A utilização de bambu em habitações sociais, segundo o arquiteto, reduz o custo da obra pela metade, quando comparado às construções convencionais, e é ecologicamente correta.?Demonstramos que uma habitação social pode ser construída pela metade do preço de uma construção convencional, que a tecnologia é simples e pode ser apropriada facilmente por comunidades pobres, e que a sustentabilidade, nesse caso, não é mera peça de marketing, mas uma prática de fato?, diz Ricardo Nunes, que afirma que ?as casas são bonitas, duráveis e muito confortáveis?. Além da redução de custo, Nunes diz que ?com uso de bambu em residências, em vez de emitir CO2 para a atmosfera, o carbono é seqüestrado pela planta e fixado na construção, reduzindo poluição e efeito estufa?. Segundo ele, ?para a produção de dez mil blocos cerâmicos, é queimado um caminhão de lenha?.Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o déficit habitacional no Brasil atinge a casa de seis milhões de unidades e envolve 30 milhões de pessoas, que vivem em habitações inadequadas ou co-habitam em precárias condições de salubridade e de higiene.Após ter construído, durante seu mestrado em 2004, o Centro de Educação Agroflorestal em Carmópolis (SE) – espaço usado para cursos e aulas de educação ambiental e capacitação de agricultores do projeto Agrofloresta, da Petrobras, e no qual foi utilizado bambu para elevação da estrutura e confecção de paredes -, o arquiteto decidiu pesquisar sobre aplicação de novos materiais e tecnologias baseados em recursos naturais e humanos de cada região. Nunes entendia que a pesquisa ajudaria a equacionar o déficit de moradia com qualidade e sustentabilidade. ?Sabíamos que os materiais e métodos de construção utilizados no Centro Agroflorestal poderiam representar grande impacto econômico na construção de casas e, para isso, precisaríamos testar em protótipos?, disse Ricardo.Com objetivo de institucionalizar a proposta de pesquisa, o arquiteto fundou o Instituto de Desenvolvimento Comunitário Sustentável (Incomun), Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip) com sede em Aracaju (SE). Em junho de 2007 firmou parceria com a Petrobras e a prefeitura, através de um programa de Responsabilidade Social Empresarial, para construir dois protótipos de habitação popular no Parque da Sementeira.A parceria originou duas casas, com 47 metros quadrados cada e divididas em dois quartos, sala, cozinha, banheiro, área de serviço e varanda. Enquanto os protótipos passam por processos tecnológicos e de avaliação técnica de desempenho de materiais, são utilizados em atividades administrativas da Empresa Municipal de Serviços Urbanos (Emsurb) de Aracaju. O projeto também visa editar um ?Manual de Construção de Habitação com Bambu? que, acompanhado de um DVD, tem objetivo de capacitar arquitetos para elaborar projetos, e capacitar mão-de-obra de carpinteiros e aprendizes para execução de construções.O uso do material ainda não foi contemplado pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), o que não desanima o arquiteto. ?A questão da normatização é uma formalidade institucional para que casas de bambu possam ser financiadas pelas agências oficiais?, diz ele. E completa: ?mesmo sem normatização, elas podem ser legalmente construídas por iniciativa das próprias comunidades, com apoio de governos e organizações não-governamentais. Os protótipos foram construídos dentro do rigor do método científico, onde todos os procedimentos técnicos foram registrados para futuras repetições. É o suficiente para a criação de um programa de construção em série?, explica.