A Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (RIO+20), que será realizada no Brasil em junho, não terá o caráter legislativo da ECO-92, cujo legado transformou para sempre a perspectiva mundial sobre o tema do meio ambiente.
No entanto, a RIO+20 poderá alcançar um impacto planetário de magnitude semelhante ao da ECO-92, contanto que consiga superar o desafio de integrar de forma equânime os três pilares do desenvolvimento sustentável: as dimensões ambiental, econômica e social.
A defesa dessa integração é o cerne da posição brasileira na conferência, de acordo com o embaixador Luiz Alberto Figueiredo Machado, subsecretário-geral de Meio Ambiente, Energia e Ciência e Tecnologia do Ministério das Relações Exteriores (MRE), e secretário-executivo para a comissão brasileira da RIO+20.
?A RIO+20 é uma conferência sobre desenvolvimento sustentável e não apenas um debate sobre meio ambiente. A intenção da presidência da conferência é que as dimensões ambiental, social e econômica tenham o mesmo peso no debate. O governo brasileiro, por sua vez, entende que, se os desafios do século 21 não forem vistos de maneira integrada, jamais conseguiremos atingir níveis de sustentabilidade?, disse Machado.
De acordo com o embaixador, o mundo atravessa uma época de crise internacional, e os atuais modelos de desenvolvimento demonstram uma erosão em sua capacidade de dar respostas aos novos desafios. ?Os modelos atuais produzem crises em todos os pilares do desenvolvimento sustentável: a crise climática, a perda acelerada da biodiversidade, a degradação social e a crise energética demonstram isso. Estamos fazendo algo errado?, disse.
Na época da ECO-92, segundo Machado, os países desenvolvidos acreditavam que haviam resolvido suas questões econômicas e sociais e dirigiam o foco das discussões para os temas exclusivamente ambientais. Enquanto isso, os países em desenvolvimento tinham o foco no desenvolvimento econômico apoiadono contexto da sustentabilidade.
?Vinte anos depois, o mundo virou de cabeça para baixo: os países desenvolvidos estão lidando com uma profunda crise econômica e social, enquanto os países como o Brasil são líderes na área em tecnologias verdes, em investimentos em energia limpa e avançaram na inclusão social?, disse.
Nesse novo contexto, segundo Machado, a RIO+20 não tem mais uma agenda que olha o econômico, o ambiental e o social separadamente. Por isso, a comissão brasileira da conferência tem utilizado o termo ?economia verde inclusiva?, a fim de remeter ao trinômio ?crescimento?, ?inclusão social? e ?proteção da natureza?.
?A decisão política do século 21 é a de integrar essas três dimensões. Esse é um desafio para todos os países e para a RIO+20. Se conseguirmos essa integração, finalmente poderemos, depois de duas décadas, realizar as promessas da ECO-92?, afirmou Machado.
De acordo com opresidente da Fapesp, Celso Lafer, o Brasil é uma grande potência no tema do meio ambiente, e nenhum dos grandes problemas dessa agenda pode ser encaminhado sem ativa participação brasileira.
?A liderança brasileira tem legitimidade internacional. É preciso ressaltar também a relevância do conhecimento no processo da RIO+20. A conferência envolve problemas de natureza complexa para os quais uma adensada pesquisa fornece indicações imprescindíveis?, disse Lafer.
Com informações Agência Fapesp/Fábio de Castro.